Inspiração/Sem Inspiração

Foto: Stalker - filme de Andrei Tarkovski

INSPIRAÇÃO

Ante a dor e frustração que me resta

Me finda ao peito, ó coração de pedra.

Que eu andarei pelas ruas fatais

Ermas de si mesmas, soltas, banais.

Tateando algo em ti que abra uma fenda,

Algum sentimento que valha a pena

Viver o instante que pulse os anais,

Revelam-se as tantas lágrimas astrais:

             Veredas por onde correm chuvas e crianças malcriadas

             Transpassando as velhas corcundas e grisalhas

             A estenderem as mãos em súplica rotineira.

             Todos os córregos do meio-fio vão dar nos vira-latas.

             Quando dobram as esquinas e vão-se ao infinito das casas,

             Navegam todas as saudades do mundo...

SEM INSPIRAÇÃO

O tédio rompeu em flores estéreis.

Sufocou das pupilas os azuis.

Não germinou das sementes as férteis.

Não vingará a estação da luz.

O asco traçou os traçados débeis.

Envenenou de fel os lábios nus.

E o tom das melodias transcendentes

Em desesperos sonoros sem jus.

Onde estão as árvores e os insetos?

Ontem mesmo pulávamos com as rãs.

Hoje é esse inaudito revertério:

Branco no branco, vozes surdas, vãs.

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Guila Sarmento (Guilherme de Melo Sarmento Filho), nasceu em Rio Bonito e foi naturalizado em Niterói; Seu primeiro livro de poemas, “Simbiônica Nostálgica e Alguma Declaração de Amor”, foi editado pelo CEP20.000 em 2004; a este livro se seguiu “Os Infames”, em parceria com os poetas Xisto da Cunha e Rod Brito, “Treze Piratas” (2007), “Na Trilha do Amor” (2007), “Alá Carter” (2008) e “Filho de Meu Pai” (Íbis Libris, 2008). Atualmente estuda História na faculdade La Salle.