Olá
amigos,
Mitologias, o tema a ser descortinado nesta primeira edição da
revista RapaDura do ano de 2012. O termo
"mito", em sua etimologia, significa “história”, “fábula”; nos
estudos da área, o mito é uma narrativa
sagrada que explica como o mundo e a humanidade originaram-se e a forma que são
atualmente. Popularmente, o mito também pode ser a
maneira de se referir a alguém que se destacou na vida e que será lembrada por
muito tempo. Os mitos são histórias
baseadas em tradições e lendas, primeiramente transmitidas de forma oral, somente sendo registradas por escrito quando a mesma foi
inventada. Além ser uma forma de explicar o mundo e fenômenos naturais aos
povos antigos, o sistema mitológico servia para também educar e moralizar
através do simbolismo e imaginário coletivo, ali imbuído e outros aspectos que uma
explanação simples não é atribuível.
Figuras mitológicas são proeminentes na maioria das religiões e a maior parte das mitologias estão atadas a pelo menos
uma religião. Os mitos originários da Grécia Antiga exercem uma grande
influência no pensamento da civilização ocidental e está intensamente presente nas artes, na cultura e
na literatura, permanecendo como parte da herança e
da linguagem do Ocidente. Em A imemorial
História de amor da existência humana com a beleza, um dos artigos desta
edição, Francisca Rutigliano nos traz em consideração a palavra de Hölderlin
com a mitologia grega e sua “obrigação” de poetar e, assim, legar à história o fundamento
mítico da compreensão humana sempre já verificado em todos os povos.
Embora
ampla e de influência abrangente a mitologia grega é apenas uma das
representações presentes nesta edição. Ignorada nas escolas e na mídia, a
mitologia ameríndia é extremamente rica e diversificada, assim como as culturas
do continente americano. Em seu texto O tempo
em que os humanos e os animais ainda não eram diferentes, Luiz Costa
descortina um pouco da mitologia ameríndia partindo do diálogo entre o
antropólogo Claude Levi-Strauss e o filósofo Didier Eribon. A diversidade
mitológica do continente americano também está representada por duas lendas
peruanas acerca da criação do Império Inca pelos deuses na cidade de Cuzco — o Umbigo
do Mundo, a capital do Império — tradução inédita de Omar Muro e
Christian Fischgold — e outras do folclore da parte peruana da amazônia, que se assemelham muito a certas lendas populares brasileiras.
Como a ameríndia, os
mitos do continente africano, não são tão conhecidos fora dos seus locais de origem
mesmo sendo perpetuados e transmitidos pela tradição oral em mais de mil línguas,
contudo se faz presente no dia a dia e na cultura brasileira. A influência dos
cultos religiosos (que em grande parte se fundam com as histórias mitológicas)
na música, nas artes plásticas, no cinema e na literatura brasileira é
inequívoca e seminal. A sua presença
no Brasil se deve em grande parte a região africana do povo yorubá, um
dos principais locais de origem de escravos trazidos ao país. Esses
mitos contém a essência do que a África é, foi e pode ser. Em seu artigo Cosmovisão e mitologia africana, Edson Fabiano dos Santos, constrói pontes que ajudam na compreensão
da cosmovisão dos yorubás, também
chamados nagô, e da relação
intrínseca dessa visão com o Candomblé, uma das maiores heranças da mitologia
(e religião) para nossa cultura e país.
Os povos do Bretanha também legaram à posteridade
um rico e complexo sistema mitológico, transformado em obras literárias na era medieval. Duas lendas celtas, Derdriu e Lomna, o Bobo, chegam a essa edição em tradução inédita para o
português por Peter Welper. Esses contos fazem parte do livro Eirinn — vestígios remotos da
origem do homem europeu, que contém os mitos que originaram as
lendas nórdicas. Editadas
somente em alemão, essas lendas são especiais por não terem sofrido as intervenções
da Igreja Católica, visto que os monges irlandeses sempre foram independentes,
principalmente do Papa...
A interpenetração e multiplicação dessas mitologias
(em especial da greco-romana) nas sociedades contemporâneas acontecem de forma
expressiva na cultura pop, na literatura, nos quadrinhos ou no
cinema, onde inúmeros filmes tem na sua fonte de inspiração
e reflexão o elemento mítico. Victor Almeida utiliza-se de Aristóteles, Homero,
Stan Lee, Art Spiegelman, mangás e animes para analisar a relação entre o herói clássico e o herói
atual, não como o “fim” do mito, mas como um enfraquecimento da mitologia
clássica, em prol de novos pertencentes a uma narrativa mais romanceada.
Bernardo Buarque de Hollanda faz uma homenagem ao “doutor
Sócrates” em texto que remete à carreira particular dos jogadores de futebol
que, ao sair de cena, tornam-se mitos,
semideuses.
Abrindo esta edição, Thomas Amorim
analisa o uso de elementos míticos fundamentais na obra de Machado de Assis, em
especial no conto “O oráculo” em seu texto intitulado Machado de Assis e a mitologia – “O
oráculo”, acerca de
parte da obra de um dos maiores escritores brasileiros. E ainda, a publicação
dos textos “Plásticos” e “Saponáceos”, do importante teórico Roland Barthes, retirados
do livro Mitologias. Agora, é aguardar o dia 28 de
fevereiro para o início das publicações, além das promoções e outras surpresas,
aqui na RapaDura.
Axé!
Os editores.